Texto: Juliana Barbosa Previtalli
A maioria dos fumantes torna-se dependente da nicotina antes dos 19 anos de idade. Há vários fatores que levam as pessoas a fumar, dentre eles a publicidade direta e indireta que é dirigida principalmente aos adolescentes, jovens e mulheres e fornece uma falsa imagem de que fumar está associado ao bom desempenho sexual e esportivo, ao sucesso, à beleza, à independência e à liberdade.
No Brasil, a publicidade de produtos de tabaco é proibida. No entanto, há várias estratégias da indústria do tabaco para atrair as pessoas para que passem a consumir seus produtos. O fácil acesso à compra e o baixo preço dos cigarros, além da tentativa de serem aceitos por grupos de amigos fumantes, se espelharem em pais e ídolos fumantes, também podem corroborar para que o jovem passe a experimentar cigarros, tornando-se em num futuro próximo um dependente de nicotina.
Por que as pessoas fumam? A nicotina, presente em qualquer derivado do tabaco é considerada droga por possuir propriedades psicoativas, ou seja, ao ser inalada produz alteração no sistema nervoso central, trazendo modificação no estado emocional e comportamental do usuário que pode induzir ao abuso e dependência. O quadro de dependência resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo para consumir a droga, estabelecendo-se assim, um padrão de autoadministração caracterizado pela necessidade tanto física quanto psicológica da substância, apesar do conhecimento de seus efeitos prejudiciais à saúde.
Muitos são os fatores que podem levar a pessoa a experimentar drogas, já que é histórica a tendência humana de buscar formas de alterar sua consciência de modo a produzir prazer e modificar seu humor. De maneira geral a possibilidade do encontro com a droga se dá na adolescência, fase caracterizada por muitas transformações físicas e emocionais, angústias e busca de respostas.
Dependendo da suscetibilidade individual, alguns fatores serão decisivos para estimular o indivíduo a atender a essa tendência humana de buscar nas drogas o alívio para suas tensões, tais como a aceitação social de uma determinada substância, seu fácil acesso, uso da droga por pessoas que tenham papel de modelos de comportamento. Portanto, a sociedade pode contribuir de maneira significativa para que o acesso ao uso seja estimulado, causando adoecimentos em larga escala.
No caso do tabagismo, vale destacar o papel que a publicidade exerceu e exerce na adoção do consumo de derivados do tabaco, especialmente cigarro. A publicidade veiculada pelas indústrias aliou as demandas sociais e as fantasias dos diferentes grupos (adolescentes, jovens, mulheres, faixas economicamente mais pobres e com menor nível de escolaridade, entre outras.) ao uso do cigarro. A manipulação psicológica embutida na publicidade de cigarros procura criar a impressão, principalmente entre os adolescentes e jovens, de que o tabagismo é muito mais comum e socialmente aceito do que é na realidade. Para isso, utiliza a imagem de ídolos e modelos de comportamento de determinado público-alvo, portando cigarros ou fumando-os, ou seja, uma forma indireta de publicidade que ainda tem forte influência no comportamento tanto dos adolescentes e jovens quanto dos adultos. A publicidade direta era feita por veículos de comunicação de massa, por anúncios atraentes e bem produzidos, que está proibida no Brasil desde 1996.
Além disso, pais ou responsáveis, parentes, professores, ídolos e amigos também exercem uma grande influência. O consumo de tabaco pelos pais ou responsáveis e a atitude permissiva desses diante do uso por seus filhos promovem a aceitação social do tabaco entre as crianças, adolescentes e jovens e contribuem para incentivar o uso.
Outro fator que pode explicar o grande número de adolescentes fumantes é a venda ilegal de cigarros e outros produtos derivados do tabaco a menores de 18 anos. Dados da Vigilância do Tabagismo em Escolares (Vigescola, 2002 - 2009) informam que a maioria dos adolescentes que participou da pesquisa afirmou nunca ter sido impedida de comprar cigarros em lojas em função da idade. Além disso, quanto à forma de aquisição do cigarro (por unidade ou por maço), chama atenção a alta prevalência de adolescentes que compraram cigarro por varejo (unidade) de forma ilegal, em todas as cidades analisadas. Esses fatores podem estar contribuindo para a experimentação do cigarro e o início do fumo entre os adolescentes.
Afinal, por que os jovens começam a fumar?
Pelo exemplo dos pais, irmãos ou outros membros da família, professores, artistas famosos e outros ídolos. Porque querem ser aceitos pelos colegas e amigos que já são fumantes. Porque querem ter prazer rápido. Porque são rebeldes e querem mostrar independência e coragem. Porque não acreditam que podem se tornar dependentes da nicotina e não sabem das dificuldades para parar de fumar. Porque não conhecem ou não se preocupam com os problemas de saúde que o fumo pode causar. Porque alguns têm depressão, baixa autoestima, ansiedade, estresse, pouco ou nenhum apoio dos pais e outros problemas familiares.
Por causa de fatores genéticos, pois algumas pessoas são mais sensíveis do que outras a se tornarem dependentes da nicotina. Por isso, os fumantes não são culpados de terem se tornado dependentes da nicotina, porque foram induzidos a começar a fumar num momento em que estavam vulneráveis (90% iniciam o tabagismo com menos de 18anos). Foram vítimas da indústria do tabaco. - Juliana Previtalli é cardiologista e idealizadora da Campanha Paradas Pro Sucesso
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