O ano de 2024 tem sido reflexo de como as mudanças climáticas são um problema urgente a ser tratado. Contudo, além dos problemas com as queimadas e outras tragédias, o corpo humano também pode ser gravemente afetado por tais condições, principalmente no que tange a saúde de seu maior órgão: a pele.
De acordo com o estudo “The dermatological manifestations of extreme weather events: A comprehensive review of skin disease and vulnerability”, publicado no The Journal of Climate Change and Health, graves alterações nas condições climáticas são causas para o desenvolvimento de problemas cutâneos.
Com mais de 15 anos de carreira, a dermatologista da Clínica Áurea, Rebeka Sobral, detalha os problemas causados por alterações climáticas. “As variações constantes de temperatura e umidade podem causar vários problemas na pele. Em ambientes frios e secos, a pele tende a perder umidade, resultando em ressecamento, descamação e irritação. Já em climas quentes e úmidos, a pele pode sofrer com o aumento da produção de sebo, o que pode obstruir os poros e agravar a acne. Além disso, mudanças bruscas de temperatura podem enfraquecer a barreira protetora da pele, tornando-a mais sensível e propensa a irritações e reações alérgicas”, destaca.
O artigo também relata os efeitos cutâneos adversos causados pelo aumento da temperatura e por queimadas em florestas, realidade bastante vista no Brasil. A alteração na flora e fauna devido às mudanças climáticas pode aumentar a exposição a substâncias indevidas. As queimadas, por exemplo, liberam poluentes no ar como material particulado (MP), monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2) e compostos orgânicos voláteis (COV). O resultado da poluição pode ser o desenvolvimento de irritações cutâneas e o agravamento de condições inflamatórias.
Contudo, as queimadas podem ser consideradas como um dos principais fatores para a poluição. A atividade industrial tem grande participação na redução da qualidade do ar, além de liberar gases de efeito estufa causadores do aumento da temperatura. Segundo o Índice global de temperatura terrestre-oceânica da Nasa, a temperatura média do planeta em 2023 foi a maior já registrada, atingindo 1,36° Célsius a mais que a média no período pré-industrial. Assim, o aumento nas temperaturas e o clima mais seco podem reduzir a umidade na pele. Essa secura traz danos à barreira protetora natural da pele, fator que gera uma maior suscetibilidade a rachaduras, irritações, infecções e alergias.
Outro problema está relacionado a diminuição da camada de ozônio, liberando mais radiação UV ao planeta. O contato desses raios com a pele pode levar ao envelhecimento precoce, aparecimento de manchas solares, rugas, além de aumentar o risco de doenças como câncer.
Desse modo, os impactos destacados reforçam a importância de adaptar os cuidados com a pele às condições ambientais em mudança. “Para manter a pele saudável frente às mudanças climáticas e à poluição, é essencial adotar algumas práticas. Primeiro, é crucial garantir uma hidratação adequada, usando cremes e loções que atendam às necessidades específicas da sua pele e bebendo bastante água. A proteção solar diária também é fundamental, independentemente do clima, para proteger a pele dos danos dos raios UV. Além disso, uma limpeza eficaz que remove poluentes e impurezas sem ressecar a pele também é importante”, reforça a dermatologista.
Assim, utilizar protetores solares eficazes, hidratantes adequados e evitar a exposição excessiva a poluentes e radiação UV são medidas recomendadas para manter a saúde da pele. Outra recomendação é a limpeza cutânea regular, visando remover poluentes, sujeiras e a oleosidade que podem obstruir os poros e causar irritações. É essencial optar por um limpador suave que não agrida a barreira da pele. Além disso, uma alimentação rica em antioxidantes como vitamina C e vitamina E tem boa atuação na contenção de danos dos radicais livres causados pela poluição.
Já em caso de climas mais secos e com altas temperaturas, o principal objetivo deve ser a manutenção da umidade. Em vista disso, a recomendação é o uso de umidificadores em ambientes internos e o uso de cremes ricos em óleos, evitando a secura. Em ambientes externos, outra medida se dá pelo uso de protetor solar, além de roupas com proteção solar e acessórios como chapéus de abas largas e óculos de sol com proteção UV.
Essas medidas, no entanto, não descartam o acompanhamento com especialista. “Para cuidados personalizados, a recomendação é ter consultas regulares com um dermatologista, que pode oferecer orientações específicas e tratamentos para proteger e restaurar a saúde da sua pele. Os profissionais conseguem avaliar com maior precisão as necessidades do paciente e, assim, fazer um cuidado mais adequado”, recomenda Rebeka Sobral.
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