No Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, 28 de maio, a Febrasgo - Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia reforça a importância do olhar para a saúde da mulher negra no Brasil, cuja a taxa de mortalidade materna é superior a de mulheres brancas em mais que o dobro de acordo com o relatório submetido pela Anistia Internacional à ONU - Organização das Nações Unidas, com base em dados do Ministério da Saúde de 2022.
Para o presidente da Comissão Especializada em Perinatologia da Febrasgo, o médico Conrado Coutinho, os principais fatores que contribuem para as maiores taxas de mortalidade materna entre as mulheres negras estão no contexto de desigualdade socioeconômica e as particularidades decorrentes do racismo estrutural, ainda presente no País. Ele explica que, de forma geral, as mulheres pardas e negras tendem a residir em áreas com menor poder econômico e em localidades mais remotas, onde o acesso aos serviços de saúde costuma ser mais limitado.
No âmbito dos cuidados obstétricos, em comparação com outros grupos, as mulheres negras têm taxas mais elevadas de internação para atenção ao aborto, são geralmente mais jovens, têm menor nível de escolaridade, menor participação no mercado de trabalho remunerado, maior probabilidade de estar em situação conjugal sem parceiro, maior número de gestações e maior incidência de complicações hipertensivas. “É importante ressaltar que essas disparidades não podem ser atribuídas à cor da pele, mas sim às diferenças socioeconômicas entre os grupos", afirma o especialista.
Do ponto de vista pré-natal, mulheres pretas e pardas também enfrentam maiores taxas de desassistência, começam o acompanhamento mais tardiamente, realizam um número menor de consultas e exames durante o processo, têm menor vínculo com a maternidade onde darão à luz e enfrentam uma maior peregrinação para ter acesso aos serviços de saúde - fatores contribuem para as maiores taxas de mortalidade e de casos graves entre as populações de cor preta e parda.
Estratégias para a redução da mortalidade
O presidente da Comissão enfatiza a importância da transversalização da temática étnico-racial em todas as ações, programas e iniciativas promovidas ou apoiadas pelo Ministério da Saúde, e reforça a necessidade de promover ações afirmativas na composição da força de trabalho em todos os níveis, assim como a capacitação contínua para a promoção do antirracismo. “É essencial que haja uma crescente inclusão de profissionais negros e pardos nas equipes assistenciais multidisciplinares de saúde, que compreendam as dificuldades e necessidades específicas dos cuidados obstétricos nessas populações”, comenta Coutinho.
Para o médico, é necessário proporcionar educação continuada permanente, com foco nos aspectos relacionados à etnia e à violência de gênero, para gestores e profissionais de saúde, a fim de qualificar o acesso e o acolhimento das demandas das mulheres negras nos diversos serviços de saúde. “Também é de suma importância fortalecer o monitoramento dos dados pré-natais e dos resultados gestacionais dessas diferentes populações, com auditoria regular dos resultados e reeducação das equipes, visando aprimorar os processos”, enfatiza.
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