Do interior de São Paulo para os palcos internacionais, aos 35 anos de idade, o tenor Jean William já cativou com sua sonoridade erudita, o Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude – em 2013, no Rio de Janeiro -, o príncipe Albert II de Mônaco, em Paris, em 2018. Talentoso, estudioso e persistente, Jean William teve como padrinho, em seu início profissional, o maestro João Carlos Martins, que o convidou a ser solista da Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP. A carreira solo seguiu e segue harmônica, tocando almas, abrilhantando os palcos do mundo, inspirando vidas. Conhecido do público piracicabano, Jean William já se apresentou na Itália, Emirados Árabes, Índia, Argentina, Estados Unidos, além de grandes salas teatrais brasileiras, bem como já dividiu palco com artistas famosos da MPB, como Fafá de Belém, Mônica Salmaso, Fabiana Cozza. Formado pela Escola de Comunicações e Artes da USP (Universidade de São Paulo), solteiro, nascido em Sertãozinho (SP), com moradia fixa em Santos há um ano e meio, a entrevista muito especial – a última em edição impressa pela A Tribuna, já que a partir de outubro todas serão no site do O Canal da Lili (www.ocanaldalili.com.br) - é com esse artista talentosíssimo e de generosidade ímpar. Acompanhe, Linkado com: tenor Jean William na sensibilidade da arte e da vida!
Quem descobriu seu talento artístico e te incentivou? como foi seu desenvolvimento profissional?
Eu comecei a cantar muito novinho, ainda na igreja, com meu avô Joaquim. Cantava nas missas, aos domingos. Meu avô foi minha primeira ponte para a música, foi quem me ensinou os primeiros passos na música. Depois do meu avô, alguns anos depois, alguns professores da escola começaram a me incentivar e destaca se uma, que é a professora Júlia, que foi um grande mecenas, uma pessoa que me ajudou inclusive a entrar na universidade, me encaminhar depois para o universo profissional. Mais tarde, quando eu estava me formando, eu fiz uma audição para o maestro João Carlos Martins, que virou um padrinho musical, uma pessoa que me introduziu no mercado nacional e internacional. Então, essas três pessoas são as pessoas que mais têm participação na minha carreira: meu avô Joaquim, a professora Júlia e o maestro João Carlos Martins.
Como é a rotina de cuidados que precisa ter para manter a potência, a afinação dessa voz maravilhosa?
A principal rotina, acho que de um cantor, é sempre a disciplina né. Estudo todos os dias, principalmente, ter alimentação adequada, não ingerir bebida alcoólica, não fumar, dormir bem. Esses são alguns critérios básicos, para ter uma boa saúde vocal, além claro, de estudo e um bom professor.
Recentemente, no perfil do seu Instagram você fez uma postagem referente à Campanha Setembro Amarelo, onde relatou sua experiência sobre a depressão. Acredita na importância dos relatos como alerta sobre depressão?
Eu acredito, sim. Acredito que é muito importante a gente começar a deixar as pessoas saberem que todos nós estamos vulneráveis, né. Porque, principalmente, em rede social onde a gente vê cada vez mais uma propagação de uma vida irreal, nos comparamos dizendo: a minha vida está muito ruim. E isso acaba sendo um gatilho a mais para que o indivíduo, de repente, caia numa depressão, numa crise. Acho que isso é um mal do século. Eu realmente passei por situações muito complicadas, então, eu realmente acho que é muito importante que a gente conscientize as pessoas sobre a importância delas buscarem ajuda, se entenderem, se aceitarem. De entenderem que existem diversas realidades e que a gente não está inserido naquela realidade que elas veem nas redes sociais ou na idealização da sociedade. E que isso não impede alguém de ser uma pessoa autêntica, original e feliz. Acho que é importante que a gente busque a felicidade na plenitude e não na idealização de coisas. Certamente, a gente sofre todo dia de propaganda ruim sobre como você deve viver a sua vida e não como você consegue, ou como você é feliz simplesmente por ser quem você é. São gatilhos que nos levam a ficar deprimidos ansiosos e tantas outras coisas, exaustos, principalmente.
Muitas crianças e jovens afrodescendentes se espelham em ícones para mudar sua própria realidade. Como você avalia a questão da representatividade?
A representatividade é muito importante. Mas eu acho que com a representatividade, é importante ter responsabilidade porque, muitas vezes, o indivíduo é um homem negro, eu sou um ícone, eu sou um representativo, mas ele não faz nada para formar essa sociedade. Eu acho que ser um homem negro, que ocupa um espaço, principalmente na minha profissão, um espaço onde a maioria é de pessoas brancas, imputa em mim também uma responsabilidade. Realmente, inspirar as pessoas na prática e não simplesmente sentar num trono e achar que eu sou aquele que venceu. Existe, inclusive, entre a comunidade negra, a síndrome do negro único, do preto único que ‘eu não vou fazer nada pelos meus, eu vou só simplesmente: se inspirem, olham como eu sou vitorioso’. Não, eu não vejo a vida assim. Eu acho que a partir do momento que entra num ambiente, num lugar de representatividade, você precisa abraçar essa responsabilidade, do quanto as suas atitudes impactam positivamente as outras pessoas e, principalmente, os seus pares. Mas acima de tudo, você precisa ajudar essas pessoas a transformar também os seus grupos, suas comunidades e não, simplesmente, ficar na propaganda.
Quem foram os afrodescendentes que te inspiraram?
A representatividade de certas artistas me inspirou nos passos de criança negra. Pessoas negras que me inspiraram: uma cantora maravilhosa norte-americana, a Jessye Norman, uma outra que é a Kathleen Battle, do meu universo da música clássica, e também um negro tenor, Lawrence Brownlee, que ainda são minorias, infelizmente, né. E além, claro, de figuras icônicas como todos nós conhecemos como: Martin Luther King, certamente meu cantor preferido que é o Nat King Cole. Mas também os cantores e artistas brasileiros, como o próprio Gilberto Gil e tantos outros brasileiros que inspiram muito a minha vida, a minha arte.
Qual recado daria para alguém que deseja trilhar o caminho artístico?
Olha, baseado no que eu já vivenciei, gente tem que um caminho, uma profissão, seja ela qual for, que seja baseado realmente na escolha da plenitude, da alegria, da satisfação em fazer aquilo que deseja com muita dignidade e, claro, com auto realização, e não necessariamente, uma pessoa ‘famosa’. Tem que ser uma escolha que vai trazer realização para sua vida. Acho que tá na hora da gente começar, realmente, buscar a felicidade. Assim, diante de tantas circunstâncias negativas, de um cenário assustador e aterrorizante que assola o mundo de tantas formas, do ponto de vista político e econômico, a gente também não pode ficar na ilusão de que o mundo é só sonhar e acreditar, que se estalam os dedos e as coisas acontecem. Mas é importante, dentro das condições de cada um, que nós tenhamos realmente consciência de escolhas mais maduras, responsáveis conosco mesmos. Que a gente não caia na ilusão de escolher uma profissão para agradar alguém, ou enfim, que realmente seja um caminho de auto satisfação, um caminho de auto realização. A arte transforma de inúmeras maneiras a vida das pessoas, seja através da emoção, seja através da inclusão, do pertencimento, representatividade, da expressão, da originalidade. A arte é a grandeza das coisas. A arte é uma tradução realmente muito profunda da individualidade do coletivo.
SERVIÇO
Jean William: @tenorjeanwilliam (Instagram). Contato comercial, pelo e-mail: doisatos@gmail.com .
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