O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma data que leva à reflexão sobre a situação do negro no Brasil. É também a oportunidade para mostrar histórias de esperança diante do caos do racismo estrutural que impera no País. Esse é o caso da hoteleira, formada pelo Senac, Elisete Aparecida dos Santos, 39 anos, casada, mãe da Nyeli, 12 anos, e da Nanda, 10 anos. Nascida em Piracicaba (SP), assim que se formou em 2007, Elisete mudou-se para a capital de São Paulo e na sequência, para Paraty (RJ). Após 11anos, de volta a Piracicaba, ela costuma dizer que sua função atual é ser mãe, além de trabalhar com locação de imóveis.
Integrante do Resistir Sempre - um grupo antirracista -, Elisete é conselheira do Orçamento Participativo da Zona Leste da cidade de Piracicaba, participa da APM (Associação de Pais e Mestres) da Escola Pedro Moraes Cavalcanti, é filiada ao PV (Partido Verde) nos diretórios municipal e estadual, além de estar com o projeto Quebradas e Cultura, que possibilita o Hip Hop nos bairros das periferias de Piracicaba, entre outras atividades. Mas preparar as filhas para a vida em uma sociedade onde a mulher ainda tem que lidar, por exemplo, com o machismo, e sendo afrodescendente, estar preparada para enfrentar uma dupla discriminação, é a função mais importante de Elisete. Confira a entrevista:
Como você educa suas filhas para enfrentarem a discriminação racial?
Eu as oriento para serem livres. Não acredito que devemos educar nossas filhas e nossos filhos para viverem um problema, até porque embora seja uma utopia dizer isso, mas também é o meu sonho, que elas nunca sofram discriminação de toda sorte. O dia que elas passarem por isso, primeira coisa é que saibam enxergar o racismo desse modo. A leitura contínua é introduzida na vida delas desde muito cedo porque é a maior arma que elas possuem. Elas têm acesso à diversidade cultural, com estímulo à autoestima, pautada na liberdade da constituição de ser humano. O diálogo constante e transparente é um privilégio delas.
Por serem mulheres, você acredita que elas carregam um peso maior do que homens negros diante da sociedade? Como você trabalha isso com suas filhas?
Acredito piamente! Na pirâmide, a mulher afrobrasileira nem sequer é reconhecida. Elas terão que lutar sempre por melhores salários, por respeito, muitas vezes, por dignidade. No dia a dia, insisto na fala de que elas são capazes, mas que o trajeto será muito mais difícil. As dificuldades estarão sempre por perto, mas o principal é aprender a olhar o mundo a partir das possibilidades. Estarem preparadas emocionalmente será o grande desafio da geração delas. A Nyeli, de 12, vislumbra uma cadeira na ONU (risos). Temos bons exemplos e isso precisa estar evidente. Elas acreditam em si.
Quais dificuldades você enfrentou enquanto mulher negra e espera que, futuramente, o cenário seja melhor para suas filhas?
(Risos)... Foram muitas dificuldades, mas sempre fui uma mulher elegantemente brava, mas ser mulher negra é ter que provar, antes de entrar, a sua competência e isso é desanimador. Não podemos desalinhar um instante e isso é cansativo. Eu desejo que o fardo das minhas filhas seja mais leve nesse sentido, e que elas possam ter melhores salários.
Você é uma mulher bastante atuante na comunidade, politicamente. Qual legado espera deixar para suas filhas?
Elas já gostam muito de política, são ativas comigo. Se elas puderem andar livremente, sem medo da violência e respirar ar puro, estarei bastante feliz.
UMA ALEGRIA: “Encontros”.
UMA TRISTEZA: “A destruição do meio ambiente”.
MAIOR REALIZAÇÃO: “Minhas filhas estão eticamente formadas”.
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