
Maio é o mês das mães e, com ele, surgem ofertas de produto de todos os tipos para que os filhos possam presentear suas matriarcas e homenageá-las. Apesar do gesto de carinho ser bem-vindo, é importante aproveitar a data para levantar uma questão que ainda é tabu na sociedade: a saúde mental materna. “Nossa cultura projeta uma imagem para a mãe ideal, na qual a maternidade e felicidade caminham de mãos dadas. Ao se tornar mãe, uma mulher deve ter excelente performance e buscar ser perfeita, desde a concepção, como única responsável pelo bom andamento da gestação e parto. E quando o bebê nasce, ela deve procurar renunciar a muitas coisas pelo filho, além de ter que tentar estar sempre serena e plena”, argumenta Glaucineia Gomes de Lima, docente do curso de Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi.
De acordo com a psicanalista Glaucineia Lima, é díficil para uma mulher distinguir o que é seu desejo e o que é exigência a satisfazer. "Ao se tornar mãe, uma mulher deve ter excelente performance e ser perfeita; levar a termo gravidez sem problemas; dar à luz sem a menor preocupação; se ocupar de seu filho com alegria; amamentá-lo, retomar rapidamente o seu trabalho; cuidar bem de sua casa, enquanto se ocupa dos outros filhos; perder rapidamente os quilos que ganhou na gravidez, ficar bela, sedutora, ter vida social e ser bem-sucedida profissionalmente. Na falta de ser a mãe perfeita como ‘deveria’, sofre por não se ver como uma boa mãe”, completa.
Na maioria dos arranjos familiares, a mãe segue sendo vista como a figura principal nos cuidados com os filhos e com a casa, sendo a paternidade, em geral, entendida como facultativa. A situação pode ser ainda mais delicada para aquelas mulheres que criam seus filhos sozinhas, as mães solos. “O mal-estar materno é silenciado, visto como obrigação. O cansaço materno é normalizado, romantizado, mas essa condição não pode ser sustentada”, enfatiza a professora.
O estado psíquico da mãe influencia no modo como ela lida com o que pode ser vivido como traumático na maternidade. Ou seja, uma mãe que não está bem psiquicamente poderá ter na sobrecarga materna o aumento do seu mal-estar. A mulher pode cuidar-se, desde o momento em que descobre a gestação, seja ela desejada ou não. O acompanhamento pré-natal com orientações dos profissionais, o apoio da família, a participação em grupos de informações e trocas com mães mais experientes podem ajudar na vivência do nascimento do bebê e ao longo de sua jornada como mãe.
Além disso, os cuidados com a criança não são de responsabilidade única dos genitores e cuidadores. Devemos pensar em uma forma de cuidado mais democrática que vai recair sobre as expectativas de educação das crianças e a construção de sociedade mais cooperativa", complementa a professora e psicanalista Glaucineia.
A especialista explica ainda que a rede de apoio poderá ser construída, com vizinhos, família, amigos, como um lugar de afirmação amoroso e condição de responsabilidade social. Não existe uma receita única para viver a relação muito particular com o filho. Podemos considerar uma visão mais conectada com a complexidade da vivência da maternidade e a possibilidade de compartilhar o cuidado tão delicado com um bebê, com uma comunidade atenta e capaz de compreender que ser mãe é um percurso, que exige um tempo de construção. É resultado de cultura e se inscreve em evolução permanente. É importante refletir sobre como conciliar a maternidade com as exigências do mundo atual", afirma.
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