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Afrolab promove o “aquilombamento”do empreendedorismo negro e indígena da economia criativa em Piracicaba (SP)

Foto do escritor: O Canal da LiliO Canal da Lili

Atualizado: 2 de dez. de 2024



Afrolab realizou capacitação com empreendedores criativos no Sesc Piracicaba - Foto: Eliana Teixeira

*Por: Eliana Teixeira

Uma pessoa sozinha pode ser vencida, mas duas conseguem defender-se. E quando grupos decidem aquilombar-se, ou seja, fortalecer laços oriundos de sua ascendência, com afetividade e acolhimento, há um avivamento da identidade cultural, que é capaz de potencializar negócios da economia criativa. Como em um quilombo – numa versão contemporânea e itinerante – o projeto Afrolab Novas Vozes, Novas Economias - Cidades do Interior de São Paulo, promoveu em Piracicaba (SP), no fim do Mês da Consciência Negra, uma imersão com mais de 20 empreendedores de diferentes segmentos.





O projeto, desenvolvido pela Preta Hub - um hub de criatividade, inventividade e tendências pretas -, em parceria com Sesc-SP, é uma iniciativa de fortalecimento do empreendedorismo negro e indígena da economia criativa nas cidades paulistas de Araraquara, Taubaté, Piracicaba e Registro. Em Piracicaba, o Afroab Novas Vozes, Novas Economias, conta com o apoio do Instituto Afropira. A capacitação teve início no último dia 25 de novembro e o encerramento acontece neste domingo (1º/12), com a realização a Feira Preta Pocket, das 13h às 17h, no Sesc Piracicaba, com exposições de produtos e serviços dos empreendedores que participaram do projeto.


Entre os objetivos, o Afrolab Novas Vozes, Novas Economias promove a participação de pessoas negras e indígenas em um sistema econômico mais equitativo, diverso e sustentável, que acredita na importância do autoconhecimento, da conexão ancestral e da criação da colaboração entre redes e comunidades. “O Afrolab está rodando o interior de São Paulo, acontecendo neste ano nos meses de novembro e dezembro. A gente já passou por Araraquara Taubaté, está em Piracicaba e depois, a gente vai para Registro. Em fevereiro, a gente vai para Santos”, relata Gilma Vieira coordenadora do Afrolab.


Gilma destaca que, durante a jornada do projeto, há capacitação e fortalecimento dos participantes. “Depois desse processo formativo, a gente faz o deságue na Feira Preta Pocket, que seria uma versão do Festival Feira Preta que a gente realiza em São Paulo (capital do Estado), mas em uma menor escala, que vem dessa parceria com o Sesc”, explica.


Empreendedores vão expor em Feira Preta Pocket, como capacitação final do Afrolab - Foto: Terra Preta Produções

De acordo com a coordenadora do Afrolab, ao longo de 2024, foram realizadas 11 turmas de processo formativo para pessoas negras e indígenas, nas seguintes capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, São Luís (Maranhão), Belém (Pará) e Salvador (Bahia). As turmas também foram presenciais, com a mesma ideia do Novas Vozes, Novas Economias, porém com outros apoiadores. “A gente fez uma turma de música em Salvador. Em São Paulo, a gente fez uma de artes visuais e a gente vai inaugurar a exposição do Museu das Favelas, que é um deságue desse projeto que a gente fez com em conjunto com a Disney e com o Instituto Kondzilla”, detalha.



Tayná Naila: "A Feira Preta Pocket vai trazer novas oportunidades de negócios” - Foto: Arquivo pessoa


NOVAS PERCEPÇÕES

Mais que uma capacitação, o processo formativo da Afrolab pode proporcionar aos participantes novas percepções sobre seus negócios. Essa é opinião de Tayná Naila Sant'ana, 28 anos, moradora de Piracicaba, formada em administração e que há seis meses tem informalmente seu próprio negócio. “No meu caso, a maior dificuldade tem sido empreender e criar minhas filhas, pois, o dinheiro não acaba sendo apenas para o empreendedorismo. E o Afrolab está abrindo minha mente, expandindo meu conhecimento. Acredito que, além do projeto abranger meus conhecimentos, a Feira Preta Pocket vai trazer novas oportunidades de negócios”, acredita Tayná Naila, mãe de duas meninas gêmeas de 1 ano de 4 meses e criadora da Ayo Velas Aromáticas.





Outra participante do Afrolab realizado em Piracicaba, é Mirian Aguiar, 39 anos. Trancista há 24 anos, Mirian é formada em administração e divide seu tempo profissional com o trabalho como escrevente em um cartório de registro de imóveis e atividades em seu próprio salão, o Mirian’s Braids & Beauty, um espaço dedicado à arte das tranças e à valorização da beleza natural.


Entre as dificuldades enfrentadas no empreendedorismo, Mirian cita desafios como equilibrar a criatividade com a gestão do negócio, além de superar a falta de acesso a recursos e créditos, o que pode limitar o desenvolvimento da atividade criativa. “Também sinto que a valorização do trabalho artesanal, como o das tranças, ainda precisa crescer. É desafiador educar o público sobre o valor da arte que fazemos, enquanto buscamos estabilidade financeira e espaço no mercado”, argumenta.


Miran Aguiar: "A Afrolab também me ajuda a estruturar melhor meu trabalho, enxergar novos caminhos" - Foto: Arquivo pessoal

Para Mirian, participar da capacitação do Afrolab é uma oportunidade única de crescimento e fortalecimento do seu negócio. “Vejo isso como um espaço de aprendizado, troca de experiências e inspiração, principalmente porque conecta empreendedores negros que enfrentam desafios semelhantes. A Afrolab também me ajuda a estruturar melhor meu trabalho, enxergar novos caminhos e entender como posso gerar ainda mais impacto com a minha arte e minha trajetória”, avalia.



Com a Feira Preta Pocket, Mirian acredita ser possível ampliar sua rede de contatos, agregando clientes e outros empreendedores. “Quero mostrar o diferencial do meu trabalho e fortalecer minha marca, além de aprender mais sobre tendências e oportunidades. Também espero que essa experiência seja uma vitrine para inspirar outras mulheres negras a acreditarem no seu potencial e empreenderem com coragem e autenticidade”, afirma.



Michelle Fernandes compartilhou seu conhecimento com os participantes do projeto em Piracicaba - Foto: Divulgação

FACILITADORAS

Empreendedora com mais de 12 anos de experiência e pioneira no segmento de moda afro no Brasil, Michelle Fernandes compartilhou seu conhecimento com os participantes do projeto em Piracicaba. Líder da Boutique de Krioula, referência em acessórios e turbantes afro-brasileiros, Michelle é facilitadora do programa Decola MEI – Microempreendedor Individual do Sebrae e mentora na Abstartups - Associação Brasileira de Startups, que apoia diretamente empreendedores na estruturação e crescimento de seus negócios.


Como multiplicadora do PretaHub, Michelle desenvolve iniciativas para fortalecer empreendimentos liderados por mulheres negras. Michelle é palestrante e já compartilhou sua experiência em empresas como WPP, Marsh e Banco BTG. Atualmente, está ampliando seu foco para temas de inovação e inteligência artificial aplicada a negócios, ajudando empreendedores a se prepararem para os desafios do futuro.


Durante a imersão do Afrolab, Michelle ministrou temas voltados ao autoconhecimento, gestão de negócios, gestão financeira, comunicação, marketing e vendas, entre outros. Esses temas foram ministrados em parceria com Elaine Teotonio, uma das diretoras e cofundadora do Instituto Afropira, que pela segunda vez, participou como facilitadora do Afrolab.


Segundo Elaine, a primeira participação foi em 2022, no projeto Afrolab Potência Afro, que uniu os eventos afros do interior paulista, contando com Piracicaba, Campinas, Rio Claro e Americana, incluindo Santos nesta ação. “Na ocasião tivemos mais diretores do Afropira como facilitadores: Mestre Marquinho, Erica Lima e Lohana Comitre”, relembra.


O Festival Afropira, destaca Elaine Teotonio, foi inspirado na Feira Preta de São Paulo, que é o maior evento afro da América Latina - Foto: Terra Preta Produções

O Festival Afropira, destaca Elaine Teotonio, foi inspirado na Feira Preta de São Paulo, que é hoje o maior evento afro da América Latina. “Nos aproximarmos da Feira Preta, Pretahub e o Afrolab era algo que sonhávamos e com certeza buscávamos. Para mim, poder dizer que tenho parceria com Adriana Barbosa, mulher empreendedora que eu admiro, é uma honra. E fazer parte dos projetos criados pela Feira Preta, em especial o Afrolab que estamos realizando agora, é muito importante para o Instituto Afropira, para mim enquanto empreendedora e inclusive para Piracicaba. Com certeza dá visibilidade à potência que é o movimento negro da nossa cidade”, avalia Elaine, a importância do Afrolab Novas Vozes, Novas Economias - Cidades do Interior de São Paulo.


Para a diretora do Afropira, a capacitação oferecida pela Afrolab impacta positivamente os participantes. “Sou uma empreendedora que sempre buscou capacitação e já participei de inúmeras. Hoje estudar e palestrar sobre afro-empreendedorismo faz parte do meu dia a dia. Por ter esta bagagem, posso falar sobre o diferencial da metodologia aplicada pelo Afrolab. A imersão mexe primeiro com o nosso pessoal e depois traz análise, reflexões, muitas informações, dicas e trocas para melhorarmos os nossos negócios. E tudo com o olhar afrocentrado. Durante o processo observamos o quanto nossos desafios, nossas dores e alegrias têm muito em comum. Espero que possamos trazer mais vezes para Piracicaba e que seja sempre assim: colhendo frutos belíssimos, como colhemos em 2022. E já projeto que ocorrerá com esta turma de 2024”, entusiasma-se Elaine Teotonio, numa demonstração de que um cordão de três dobras não se rompe com facilidade.

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